quinta-feira, julho 28, 2011

Um certo acento

Para combinar com a pronuncia da primeira música de "A gosto 2011" vou contar-vos a história de Figgi e Spooky. Não a história toda que não quero entediar-vos, só o que se passou hoje ao fim da tarde, e mesmo assim vou resumir.

Mas para isso preciso dizer que o Figgi é um gato tímido, que em geral não se aproxima de desconhecidos e não se afasta de casa. Já o Spooky é mais destemido e gosta de sociabilizar, mas como mia como se o estivessem a cortar às postas com uma faca romba, mesmo que se perca de vista, pode sempre seguir-se o som dos seus harmoniosos berros. Foi assim que, noutras ocasiões, o fui buscar à garagem do prédio, ou simplesmente às escadas.

Desta vez foi o Figgi que deu o alarme. Andava muito nervoso à minha volta mas como eu tinha mais que fazer, não lhe liguei nenhuma. Quando finalmente lhe dei atenção, talvez uma ou duas horas depois, vi-o correr para a porta que dá acesso à escada do prédio. A porta do apartamento tinha estado aberta o dia todo. Eu apercebo-me imediatamente da falta do Spooky mas, pior do que isso, de um total silêncio.

Dou inicio à busca: sete andares de apartamentos, um andar de arrecadações, dois andares de garagens. E não se ouvia o Spooky em lado nenhum, o que me convencia que ele tinha que estar na rua. Volta ao quarteirão, espreitar debaixo dos carros. Voltar para casa, tocar à porta das vizinhas do meu andar. Nada. Volto a sair e encontro a minha vizinha que costuma acolher os gatos em sua casa. Com ela repeti a busca: sete andares de apartamentos, um andar de arrecadações, dois andares de garagens, volta ao quarteirão. Ela até desceu à estação de metro.

Desistimos e eu comecei a despedir-me daquele gatito amarelo, muito simpático e barulhento, que me ataca os pés todas as manhãs.

Pouco depois a minha vizinha toca-me à porta e entrega-me um papel. Estava afixado à entrada do prédio e dizia: Encontrei um gato no corredor, está em minha casa. E seguia-se um número de telefone. Telefono uma vez, segunda vez e ninguém atende. Deixo mensagem no voice-mail e preparo-me para escrever uma mensagem escrita quando tocam à campainha.

Erra um rapaz, talvez frrancês e bastante jeitoso, com o meu gatito ao colo. Explicou-me onde o encontrrou e que decidiu guarrdá-lo em casa. Agradeci-lhe muito.

quarta-feira, julho 27, 2011

A gosto 2011

"Bonnie and Clyde", Luna
"Abducted", Cults
"Moth's wings", Passion Pit
"Slow", Twin Shadow
"Ceremony", New order
"I dont like this", The Radio Dept.
"To here knows when", My Bloody Valentine
"Can't you see", Women
"Tea ligths", Lower Dens
"Anteroom", Ema
"Go outside", Cults
 

sexta-feira, julho 15, 2011

112

Hoje assisti a um atropelamento, daqueles em que um corpo voa como um boneco, fazendo uma pirueta no ar, e um sapato de solta do corpo atropelado. Pois é, parecia mesmo um filme. Porque uma pessoa não imagina que um corpo humano possa sofrer algo de tão violento, é difícil convencermo-nos que a cena a que assistimos é real. Com toda a gente um pouco confusa, peguei no telemóvel e chamei o 112. Cada toque de chamada que passava sem atenderem deixava-me incrivelmente nervosa e tudo parecia demorar uma eternidade. Quando desliguei o telefone aproximei-me da cena. Um homem estava deitado no chão. Tinha uma T-shirt de um amarelo tão vivo que até aquela cor tinha qualquer coisa de cinematográfico, como se o realizador nos quisesse prender a atenção, quisesse que os nossos olhos não deixassem a vítima. E não deixaram. O homem começa a mexer-se aos poucos, depois levanta-se, e eu à espera da ambulância com a mesma ansiedade com que tinha esperado que atendessem o telefone. O homem está em pé mas tem uma perna inchada. Procura o sapato que se soltou, sempre apoiado ao gradeamento que separa a estrada do passeio. Nota-se que tem dores e eu volto a procurar a ambulância. O homem dá uns passos com dificuldade, volta a perder o sapato, volta a calçá-lo, mas já mostrou intenção de se ir embora. O taxista que o atropelou parece ocupado com outra coisa qualquer e eu aproximo-me do homem e peço-lhe que não vá embora, que está a chegar uma ambulância. O homem é imigrante e faz-me pensar que talvez seja por isso que não quer esperar. Afasta-se rua abaixo, lentamente porque vai a coxear, com aquela T-shirt amarela que se continua a ver à distância.

Discuto com uma amiga se devo ou não voltar a ligar para o 112. Ela diz que sim. Eu não sei o que causará mais confusão mas liguei e disse que a vítima se tinha ido embora e que seria melhor cancelar a ida da ambulância. O taxista, ao ver o homem afastar-se também se apressou a ir embora. De forma bastante agressiva o homem do outro lado do telefone diz-me que um atropelamento com vítimas é crime, que o meu número ficou registado e se alguém der entrada no hospital eu poderei vir a ser "incomodada". Respondo-lhe, muito irritada, que se for incomodada ajudarei no que puder, e digo-lhe que a ambulância chegou e que vou falar com eles. Notou-se a agressividade do outro lado do telefone a diminuir um pouco.

Ao falar com os paramédicos ainda procurei a T-shirt amarela ao longo da rua mas já tinha passado muito tempo. Voltei para casa furiosa com a agressividade do tipo do 112 que tinha falado comigo ao telefone. Ao chegar a casa, e com os nervos um pouco mais calmos, percebi o que tinha acontecido. Pensou que tinha sido eu a atropelar o homem e estava a avisar-me que não me safaria cancelando a ida da ambulância, que conseguiriam identificar-me através do número do telemóvel.

segunda-feira, julho 11, 2011

Há qualquer coisa de desconexo entre a música e o vídeo, mas talvez seja só de mim.