sexta-feira, abril 30, 2010

Os números

Muitas vezes, quando comparamos o nosso défice público com os dos maiores devedores da zona Euro, surge a impressão de que estamos numa situação que é melhor do que os mercados e as agências de rating querem crer. Façamos por exemplo a comparação entre Portugal e a Irlanda:
  • Dívida Pública: Portugal 84,6 % do PIB - Irlanda 82,9% (est. para 2010)
  • Défice Orçamental: Portugal 8,0% do PIB - Irlanda 14,7% (est. 2010)
Aparentemente, o nosso estado deve tanto como o Tigre celta mas temos a despesa do estado bem melhor controlada (graças à reforma da segurança social). Até parece que estamos melhor do que a Irlanda. Mas a questão não está apenas em saber o quanto mas também quando é que teremos de pagar a dívida, e quando é que a Irlanda tem de o fazer:


Como se lê no 1º gráfico, só neste ano precisamos de desembolsar 18 mil milhões de euros, correspondentes a 11% do PIB anual. No próximo ano o esforço continua e o estado terá de entregar aos credores novamente 10% do PIB. Estamos a falar de cerca de 27% das receitas, numa altura de recessão!!


Já a Irlanda tem de pagar em 2010 somente 8,6 mil milhões, cerca de 6% do PIB. No ano seguinte são só 3%! De facto, como se observa no 2º gráfico, as consequências dos défices gigantescos dos 2 últimos anos surgirão apenas no final da década.

Ou seja, o risco de Portugal incumprir os pagamentos agendados para os 2 próximos anos é extraordinariamente superior ao da Irlanda, o que justifica plenamente os ratings diferentes que estes dois paises têm.


Vale a pena dar também uma olhadela aos dados da Grécia.
  • Dívida Pública: 125 % do PIB (est. 2010)
  • Défice Orçamental: 12,2 % do PIB (est. 2010)

No presente ano, o estado Grego terá de entregar aos credores cerca de 7% do PIB, ou seja cerca de 20% das suas receitas. Se isto parece muito, veja-se o que se segue: 2 anos a pagar aos credores mais de 40% das receitas do estado, seguidos de mais 2 anos insuportáveis, com 35% e 40% da receita reservada para pagar a dívida!! É impossivel a um estado nestas circunstâncias, em recessão e com um défice orçamental de quase 15% não falir, a menos que tenha muitos amigos com liquidez...

Saber como é possivel chegar-se a este estado de coisas sob o olhar atento do Banco Central Europeu (e do Bundesbank) é a chave para se perceber o que de facto é o projecto da moeda única europeia.

1 comentário:

  1. Filipe a Ministro das Finanças e uma velha chata no governo...E rápido! O Sócrates vai a caminho de ser o maior embuste da nossa história em democracia.

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