sábado, agosto 21, 2010

Aventura nocturna

Cheguei finalmente a casa. Não se pode dizer que tenha sido fácil mas cheguei incólume, apesar de desfalcada em 50 cêntimos.

Tudo começou, aparentemente bem, com uma viagem no famoso eléctrico 28, a abarrotar de espanhóis que vibravam a cada solavanco deste desconfortável meio de transporte, reproduzindo ao pormenor a descrição que li há pouco tempo num blog da autoria de um guarda-freio (não faço ideia como cheguei ao dito blog!).

O Jorge deu-me indicações muito precisas de como chegar ao seu castelo altaneiro, através de uma mensagem de telemóvel. Mal saí do eléctrico deitei mão ao telemóvel e como não o encontrei à primeira já estava a ver que tinha ficado nas mãos dos famosos pickpockets do 28. Mas não, foi pânico injustificado, ou justificado pelo copo de vinho do jantar (ou pelo livro do Philip Roth que tinha acabado de comprar na Fnac e também contribuiu para a embriaguez).

Segui à risca as indicações do Jorge mas depressa me apercebi que ele esperava que eu tivesse chegado de eléctrico na direcção contrária: quando comecei a descer uma rua lembrei-me que a casa do Jorge fica num dos pontos mais altos da cidade, e por isso dei meia volta e corrigi a rota.

Já quase tinha esquecido o episódio da mosca!

Cheguei a casa do Jorge que me abriu a porta e me conduziu para a sala onde fomos atacados por uma mosca mutante, gigantesca que nos perseguiu implacavelmente durante várias horas e sobre a qual o Jorge descarregou um frasco de Biokill e outro de Substral-casa-e-plantas. Ainda entrou uma Swiffer na dança, quando a mosca mutante usou um sósia que nós (o Jorge) atacou ferozmente contra o tampo da mesa, com a dita Swiffer. Mas rapidamente nos apercebemos do embuste e voltámos a concentrarnos na mosca verdadeira. A mosca teve de repente uma quebra de tensão e ficou quase imóvel no chão, onde, em vez de água com açúcar recebeu mais uma dose de Substral-casa-e-plantas e uma sapatada que a arrumou definitivamente.

Depois desta canseira disfrutámos finalmente de uma bebida (a do Jorge foi sopa!) e falámos (literalmente) da nossa saúdinha e da família e de como o Jorge vai vender a sua alma ao diabo a troco sabe-se lá de quê.

O tempo passou agradavelmente e eu dei-me conta que tinha de sair se quisesse chegar de metro a casa. Depois da discussão de quais os trajectos menos perigosos para sair daquela zona medieval e para chegar a algum ponto civilizado da cidade, isto é, com metro, elaborámos um plano. O plano, diga-se já ambicioso, era ir a pé até aos Anjos e aí apanhar o metro de forma a chegar à Alameda antes da 1h. Mais uma vez o Jorgito deu-me instruções precisas, mas desta vez não estavam escritas em lado nenhum. Também é preciso dizer que apesar de diplomada em orientação, eu sou a maior nódoa na matéria e consigo perder-me em apartamentos com mais de duas assoalhadas.

Claro que não cheguei aos Anjos antes da 1h. Pode-se dizer que nem sequer cheguei aos Anjos, ou ao Martim Moniz que tinha sido uma das hipóteses discutidas. Cheguei ao Jardim do Tabaco e não foi de certeza pelo caminho mais curto. Uma vez aí senti-me incapaz de avaliar qual dos sítios estava mais próximo, se Sta. Apolónia se o Terreiro do Paço. Decidi-me pelo Terreiro do Paço onde deveria chegar antes da 1h, apanhar o metro que eu achava pertencer à linha verde e ir pelo menos até à Alameda. Entretanto decido contar a aventura numa mensagem de texto ao Jorge, o que me faz perder tempo valioso, pois sou quase tão boa em orientação como em SMSs. Logo a seguir o Jorge telefona-me, no momento em que avisto um autocarro com o destino Estação do Oriente. Claro que o autocarro estava do outro lado da estrada, a Av. Infante D. Henrique que atravesso a correr apesar dos carros passarem a grande velocidade. Também é claro que não apanhei autocarro.

Bem, desatei a correr até à estação do metro no Terreiro do Paço para me dar conta que pertencia à linha azul e que por isso não me era especialmente útil.

Desisti dos transportes públicos, procurei uma caixa multibanco nas ruas da baixa, levantei dinheiro e apanhei um táxi. A conversa do costume com o taxista: no início um tanto formal para, quando chegam a porta de minha casa, desatarem a contar-me a sua vida e ficarem parados mais um quarto de hora, em boa verdade com o taxímetro parado, mas e então? lá por uma pessoa ser simpática não tem de se transformar logo em confidente. Mas desta vez havia algo de novo. O que havia a mais em conversa faltava em moedas e o pobre senhor não tinha troco para me dar. Bem, nesta altura, ainda por cima estando a uns meros 5 metros, eu queria era ir para casa, e o homem lá ficou com mais 50 cêntimos do que devia.

Cá estou no aconchego do lar a rir-me da minha falta de orientação, do meu jeitinho para perder autocarros e metros, e da minha ingenuidade quanto aos perigos que espreitam nas ruelas medievais da cidade. Provavelmente amanhã espera-me outra aventura nocturna, desta vez num cenário menos urbano e ainda mais misterioso.

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