Chamo a atenção para um pequeno artigo que Joana A. Viana (n'O Público de 22 de Julho) intitulou de "Crítica a Gore condenada no Reino Unido". O título já diz tudo, mas é interessante entrar um pouco nos detalhes. Vem a propósito de um documentário transmitido no britânico Channel 4 que terá atraido "265 queixas e gerou uma grande controvérsia" no Reino Unido. Porquê? Por advogar que "o impacto humano no aquecimento global é exagerado"...
O primeiro facto a assinalar é que a entidade reguladora Ofcom, uma espécie de ERC lá do sítio, considerou que este "documentário que negava os argumentos de Al Gore (...) não respeita as regras de imparcialidade do jornalismo". O mesmo se poderia dizer do documentário de Al Gore, mas também o que é que isso interessa?...
Surpreendentemente (ou não?), e decerto após aturada investigação, a Jornalista remata o artigo com o seguinte Aviso: "cientificamente, esta corrente está desacreditada. Tem-se provado que muitos dos que a defendem são financiados por grandes empresas petrolíferas"!!
Parece-me inovador, este método que consiste em usar a alegada fonte de financiamento de alguns (quantos?) dos adversários como argumento científico! Escrevo alegada, porque não conheço a fonte usada por J. A. Viana e sei que muitos dos descrentes são cientistas de renome, que nada têm a ver com a industria do petróleo. E ao contrário de Gore e do IPPC, a competência científica de vários deles tem o selo de garantia dos prémios Nobel da Física e da Química.
Nesta discussão do aquecimento global chegamos a um ponto em que a posição advogada pelo antigo candidato Democrata à Casa Branca parece ter-se tornado religião de estado* em muitos paises ocidentais. Deixou-se o plano científico e alcançou-se o patamar do dogma e por vezes mesmo da intimidação intelectual.
Um episódio recente, envolve a reputada APS (American Physical Society) que sai muito mal desta história. Vale a pena ler o artigo do The Register, para se perceber o que se entende por vasto consenso científico na questão do aquecimento global.
* Ironicamente, também nesta nova religião se condena o uso de preservatives (nos alimentos).
As causas do aquecimeno global são com certeza muito complexas e não são fáceis de determinar. Mas mesmo assim acho que é um bom pretexto para pensar em soluções que diminuam a poluição atmosférica e o gasto de combustíveis fósseis. As emissões de gases poluentes têm consequências na saúde das populações mesmo na ausência de aquecimento global. E a dependência do petróleo têm consequências económicas para além de ambientais.
ResponderEliminarClaro que tudo isto não é desculpa para deixar de discutir um assunto em termos científicos. Mas a questão tem pelo menos tanta relevância política como ciêntifica e há decisões políticas que têm de ser tomadas em situações em que não há conhecimento científico suficiente. Os critérios nesse caso têm de ser outros, se a tomada de decisão não puder esperar pelos cientistas.
Concordo plenamente contigo: Há muito tempo que há muitas e boas razões para deixar de encher o ar de gases poluentes. Razões que são muito mais objectivas e alicerçadas em factos do que a tentativa actual de inverter o "aquecimento global". A mim incomoda-me que a opinião pública, a política ou lobbys ecologistas possam criar factos científicos, e mesmo afectar o livre debate de ideias entre cientistas.
ResponderEliminarQuando se toma uma decisão política sem conhecimento científico suficiente, há que ter coragem de admitir que é isso que se está a fazer. Mas que muitos políticos exageram a verdade não é novidade. A mim perturba-me mais que certos cientistas usem a sua posição previlegiada de "especialistas" para promover "causas" mal substanciadas. É a credibilidade da Ciência que está em causa.
Preocupante é também assistir ao uso de métodos mais próprios de regimes totalitários para calar vozes discordantes no seio da comunidade científica. A livre circulação de ideias não pode ser impedida pelos clamores de Greenpeaceniks e quejandos, como aconteceu recentemente na APS.
Tens razão, claro. Esta discussão tem tomado proporções um pouco insanas e levado a atitudes reprováveis. Não sei porque é que a bandeira do aquecimento global se levanta tão alto, quando há outras que podiam ser levantadas. Outra coisa que não me agrada é o tom alarmista que a discussão tomou, deixando-nos a todos angustiados e com a sensação de, por muito que se faça, vamos todos assar daqui a uns anos. A discussão podia ser mais construtiva. Há que admitir que por vezes é mas não a maior parte das vezes.
ResponderEliminarNo blog De Rerum Natura, discutiu-se o aquecimento global e o uso da ciência e a discussão escalou de tal forma que chegou muito perto do insulto. Fica aqui o link:
http://dererummundi.blogspot.com/2007/04/lgica-e-falcia-correlao-causalidade.html
Obrigado pelo link! É uma discussão edificante :-)
ResponderEliminarNão se deixem manipular assim tão facilmente. Obviamente que é preciso ter algum sentido crítico e desconfiança com o que se lê. Mas, os dados científicos publicados são para já muito claros sobre o nosso destino no caso do "business as usual".
ResponderEliminarDe qualquer modo, sobre o assunto do post, convido-vos a ver este video:
http://www.youtube.com/watch?v=2T4UF_Rmlio
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ResponderEliminarPensei muito antes de escrever este comentário. Resolvi fazê-lo por achar inaceitável que cientistas doutorados escrevam de uma forma tão irresponsável sobre um assunto tão sério.
ResponderEliminarEm 2007, a Plataforma (www.pdiambiente.blogspot.com) exibiu e debateu o documentário “The Great Global Warming Swindle”. Este documentário procura fundamentar a tese de que a comunidade científica está dividida relativamente ao aquecimento global e às suas causas, procurando ainda desacreditar o IPCC. Para sustentar esta tese, entrevistam-se alguns cientistas que têm em comum não terem qualquer publicação científica na área da climatologia. O documentário gerou uma grande polémica no Reino Unido motivando até uma resposta da Royal Society (cf. http://royalsociety.org/news.asp?year=&id=6089).
A tentativa sistemática de desacreditar o IPCC na comunicação social motivou também uma declaração conjunta das academias científicas do Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, EUA, China, Índia, Brasil (e mais algumas que eu não me recordo) em que reconheciam o IPCC como a entidade mais capacitada para falar sobre alterações climáticas e, como tal, a que deve ser escutada. E a posição do IPCC é muito clara:
vide http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ar4_syr_spm.pdf.
A mensagem para o público só pode ser uma: é urgente reduzir as emissões de CO2 para travar o aquecimento do planeta, porque é isso que a ciência actual nos diz de forma inequívoca. O que não significa que se deixe de investigar todas as hipóteses.
Dizer que a comunidade científica está dividida porque um tipo no Canadá, outro no Reino Unido, e outro na França a teoria vigente é tão sério como dizer que a comunidade científica está dividida relativamente à Mecânica Quântica porque o Professor Croca (Prémio Galileu) e mais dúzia de cientistas no mundo a contestam. E não será demasiado religioso ensinar nos cursos de mecânica quântica apenas a versão da MQ que 99.9% dos físicos reconhecem como válida?
Não sou climatologista, e não tenho capacidade para avaliar a qualidade das previsões dos modelos climáticos. Mas para mim chega-me que as academias de ciência mais influentes do mundo acreditem o IPCC. Podemos ler o relatório do IPCC e fingir não entender que a manutenção do nosso modo de vida custará a vida a milhões de pessoas, e implica o desaparecimento de alguns países. A dúvida cabe aos cientistas (mais concretamente aos climatologistas), a nós cidadãos cabe-nos agir. Continuar a levantar dúvidas sobre a seriedade do trabalho científico é irresponsável e criminoso.
Relativamente ao cepticismo ler ainda: http://gristmill.grist.org/skeptics.
Concordo com o José. Activamente.
ResponderEliminarCompete-nos, a todos, agir!
& discutir:
No próximo dia 24 de Agosto a Plataforma vai apresentar o documentário do National Geographic «Seis Graus», a partir do livro de Mark Lynas com o mesmo nome; e promover esta discussão quente sobre o calor deste Verão e dos próximos:
«Seis Graus»
Domingo, 24 Agosto 2008, 18h
Sala Visconti
Fábrica do Braço de Prata, Lisboa
E, já agora, por favor não se esqueçam: alarmante não é alarmista quando se trata do aquecimento global http://fergusbrown.wordpress.com/2007/09/18/alarming-is-not-alarmist-when-it-comes-to-climate-change/
Caro José,
ResponderEliminardevo dizer-te que nao considero que a minha opiniao sobre o aquecimento global influencie o comportamento da humanidade. Assim sendo, nao vejo como possa ser "irresponsável" opinar sobre o assunto. Mesmo havendo um certificado que diz que sou um cientista doutorado. As pessoas que lêem este blogue já sao crescidinhas e, verdade seja dita, nada podem fazer para influenciar o aquecimento global. Nem mesmo todas juntas.
Há, na minha opiniao, aqui (pelo menos) 2 questoes interessantes a discutir. A primeira gira em torno das causas do aquecimento global e das possiveis consequencias a médio e longo prazo deste fénomeno climático. A segunda, que é aquela que eu referí no meu "post", trata de certos comportamentos dogmáticos e por isso anti-científicos de certas pessoas, mesmo dentro da própria comunidade científica. Senao, alguém que me explique o que sucedeu recentemente na APS.
O paralelo que estabeleces entre a MQ e a teoria antropogénea do aquecimento global é interessante. A mecânica quântica foi verificada experimentalmente dentro de um vasto domínio de aplicabilidade com uma precisao notável. P.ex., os níveis de energia do átomo de hidrogénio sao descritos com enorme precisao sem ser necessário recorrer a um cálculo numérico a correr durante nao sei quantos anos.
A mecânica quântica é apenas um Princípio, um constrangimento que se coloca a um modelo. Há modelos quânticos que nao descrevem nada e há comportamentos da natureza que nao evidenciam qualquer natureza quântica. (P.ex. será que a gravidade é um fenómeno quântico? Eu nao sei.)
O que sei, é que se os modelos climatológicos que prevêem esta ou aquela evolucao do clima, tivessem a mesma simplicidade matemática que a MQ tem, entao a evolucao da temperatura global nos próximos 50 anos decerto seria determinada por uma combinacao simples de Pi's, e's, números de Bernoulli e números racionais. Mas parece-me que nao é.
Daí eu nao encarar a climatologia da mesma forma que encaro a física teórica de altas energias. Creio que nao seria justo esperar da climatologia a mesma precisao que se pôde obter na MQ e mais tarde na QED.
Deves achar que ao afirmar isto estou a tentar pôr em causa a posicao oficial do IPCC. Ora, isso nao é verdade. O que eu estou a por em causa é a forma como as pessoas reagem ao anúncio de certas afirmacoes de caracter científico, dando-lhes o valor de verdades absolutas. Só isso.
Sobre a qualidade dos modelos:
ResponderEliminarhttp://gristmill.grist.org/story/2006/12/13/21360/608
Obrigado a todos pelos links!
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