terça-feira, novembro 29, 2011

L' inconnue de la Seine


Por uma daquelas estranhas coincidências, um assunto que até há pouco tempo desconhecia, aparece-me diante dos olhos (e neste caso dos ouvidos) duas vezes, através de fontes independentes. É a história de como a máscara funerária  de uma jovem desconhecida, que aparentemente se suicidou atirando-se ao Sena, se tornou popular e um objecto comum nas casas parisienses do Séc. XIX.


A primeira vez que vi (li) uma referência a esta história foi num texto de 1929, de Alfred Döblin que serve de prefácio ao The Face of Our Time de August Sander. A segunda foi hoje, num programa do RadioLab, que conta como esta máscara deu forma à face do boneco usado no treino de reanimação cardio-respiratória. Também esta é uma história de coincidências.

sexta-feira, novembro 25, 2011


(uma sugestão da Inês)

Preto no Branco

Hoje abri finalmente o frasco de tinta da China que o Duan-Cai me ofereceu antes de se ir embora, já lá vai algum tempo. E usei pela primeira vez os pincéis que a Sílvia me trouxe de Macau, já lá vão algumas décadas. A tinta da China, ou esta que eu aqui tenho, tem um preto muito bonito, denso. Os pincéis chineses, estes que eu aqui tenho, são macios e absorvem uma quantidade de tinta considerável, e transmitem-na bem ao papel. A superfície do papel fica brilhante nas zonas onde ficou mais tinta, que se pode também diluir para produzir belos cinzentos. 


quinta-feira, novembro 24, 2011

Um nada puro e branco

Hoje passei por Braço de Prata. É supostamente o mês da fotografia, por lá. A quantidade de exposições é enorme e nenhuma me apelou grandemente. Reparei numa fotografia de um campo de trigo, mas não mais do que isso. Ou talvez uma que repetia uma cruz, que se via por traz de um muro, no desenho que demarca um lugar de estacionamento, e isto porque estive a analisar a composição com o Miguel. E além disso há a feira do livro de fotografia e a mostra de maquetes. Eu contribuo com duas. Já para não falar da nossa exposição, que continua por lá, quase cadáver (o meu livro está descolado). Que excesso! Apareceu por lá um tipo, que interrompeu a conversa que eu estava a ter, para mostrar o seu projecto de fotografia (já tinha mandado um email). Toda a gente quer expor, mostrar o seu trabalho, pelos vistos o flickr não chega, o facebook. Toda a gente quer mostrar o seu trabalho mas está muito pouco receptivo ao trabalho dos outros.

E andamos todos tão ocupados, a fazer telefonemas, a mandar emails, a fazer divulgação. Devíamos todos, ou a grande maioria, deixar de ser tão produtivos. Não é a primeira vez que me apetece passar só a fotografar amigos e família e mostrar as fotografias apenas aos respectivos modelos, ou a quem por eles sinta afecto. A fotografia é algo afectivo, guarda-nos a imagem de alguém que vamos querer recordar. O resto, ou pelo menos assim me parece hoje, são apenas exercícios.

Claro que esta irritação é provocada pela minha própria produtividade, de imagens a sites, blogs, podcasts, tudo de qualidade duvidosa. Tenho de parar de fazer tudo e passar a fazer nada. Um nada puro e branco. Bem, talvez mantenha a natação.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Um retrato de Portugal?

O espectáculo da Rita Natálio na Culturgest foi completamente surpreendente. Segundo me contou a Inês é o resultado de uma série de entrevistas a pessoas dos 8 aos 80 anos, construído a partir destas, com três actores fabulosos Cláudio da Silva, Carla Bolito e Nuno Lucas. 

Reflecte-se sobre a ideia de identidade, de comunidade, por vezes é cómico, mas o que fica é de uma humanidade ao mesmo tempo fascinante e comovente. E a Rita é uma rapariga fabulosa (pediu o meu bilhete para menores de 30). Foi uma noite em cheio.


fotografia de Inês Abreu e Silva

terça-feira, novembro 22, 2011

O mundo dos sons

Estou mesmo a acabar! Tenho andado a brincar com programas de edição de som há já umas semanas, e claro que  rapidamente se tornou numa actividade viciante. Estou a editar uma entrevista e o facto de já a ter ouvido inúmeras vezes modifica a forma como a ouço. Já não ouço o conteúdo, antes o ritmo que vou modificando através da edição e da adição de material sonoro. 

A voz humana é extremamente cativante, mesmo que não seja a mais bela voz radiofónica, e os bons programas de rádio costumam absorver-me totalmente. Ultimamente tem sido o Radiolab. A possibilidade de fazer eu própria um destes programas, e a facilidade com que se pode fazer, usando o software disponível, torna o desafio irresistível.

Os bancos de sons são outra coisa maravilhosa. O FreeSound com todas as suas descrições pormenorizadas de sons gravados ou sintetizados.

Neste momento já fiz o upload do ficheiro para o souncloud mas está a demorar a ficar disponível. Sempre são mais de 15 minutos de audio. Agora é escrever o texto complementar e preparar a divulgação da entrevista. A segunda entrevista já está agendada. Espero que seja mais fácil da editar do que esta.

domingo, novembro 20, 2011

Pequenas imagens perdidas no CCB

Há uma exposição com polaroids do Tarkovsky, imagens minúsculas escondidas numa sala comprida, algures no CCB. São imagens da Rússia e de Itália, retratos da família, naturezas mortas. Algumas paisagens russas têm uma névoa muito bela e misteriosa, cores Outonais, as naturezas mortas mostram cores delicadas e os retratos de família são uns mais prosaicos outros profundamente melancólicos.



As imagens são tão pequenas e têm uma tal qualidade gráfica que fiquei a pensar no paciente pintor que as executou e no propósito das suas dimensões reduzidas. Como se tivessem sido pensadas para aqueles medalhões onde as senhoras guardavam retratos de entes queridos, que traziam sempre junto ao seu peito, perto do coração. Mas são fotografias, quase fotogramas de um filme.
A montagem da exposição não ajuda a desfrutar as imagens. Agrupadas por vezes em duas filas horizontais, cada uma das filas ficava respectivamente mais acima ou mais abaixo da posição ideal para as olhar. Algumas fotografias estavam mal montadas nos passpartouts, viam-se o pregos que seguravam as molduras brancas em paredes brancas e outras questões semelhantes. A Inês disse que as imagens eram muito boas mas valia mais vê-las na internet. Não sei, a mim apetecia-me vê-las num livro, ou ampliadas, ou ambas as coisas. É possível vê-las num livro, também é possível vê-las na internet mas hoje o dia estava lindo, e os Domingos são sempre dias bons para passear em Belém, e para a Filipa me apresentar uma amiga que afinal é minha colega da natação. O mundo é pequeno, apesar da Rússia ser um lugar longínquo.

12 horas

Há pessoas que têm o condão de me fascinar, e enquanto estou envolta nos seus vapores mágicos, reparo que fascinam também outras, mas não todas, formando-se assim uma irmandade de encantados. De vez em quando dou-me conta que exerço um fascínio do mesmo tipo em pessoas que me fascinam e isso, além de me surpreender, deixa-me em pânico, sempre a pensar que vou quebrar o feitiço com algum disparate, dito ou feito. Este encantamento, por vezes mútuo, é baseado no desconhecido. É o que não sabemos da pessoa, o que imaginamos, e que tem obviamente de ser perfeito, que nos fascina. A revelação dessa parte oculta tem de ser doseada, feita com delicadeza, por isso as amizades são construídas devagarinho, com gestos cuidadosos.

Passei o dia de hoje a observar estes comércios, a desvendar jogadas, a admirar-me do poder que alguns seres têm de atrair pessoas, umas vezes por razões tão obvias como a beleza, outras por razões difíceis de descortinar mas fáceis de sentir.

"A" fascina-me. Não se bem porquê, não é especialmente bonita, não consigo dizer o que tem de tão interessante. Só arranjo justificação para o meu interesse quando vejo o interesse que ela suscita em B e em C, que eu não conheço e ela despreza. A, pelo contrário, fica nervosa e faladora na presença de D. Isto eu percebo, D também me tira do sério, é muito cativante, bonito, com gestos ternos. Mas ele é demasiado bonito, portanto é demasiado óbvio deixarmo-nos cativar por alguém assim. É o mesmo que dizer que estamos apaixonados por uma estrela de cinema, que valor pode isso ter?

Admiro automaticamente B e C, apesar de não os conhecer, porque se sentem fascinados por A, pertencemos à tal irmandade. E o interesse de A por D, que em parte partilho, também nos aproxima. E o fascínio que A sente por mim lisonjeia-me e surpreende-me. E tudo isto é belo e ridículo ao mesmo tempo, emocionante e comovente, porque nada se joga aqui, não há prémio, é o jogo pelo prazer do jogo, uma peça sem desfecho.

sábado, novembro 12, 2011

Arrumações de Outono

Mas como é que isto chegou a este caos? O objectivo é manter os livros arrumados por ordem alfabética de autor, mas a verdade é que tem sido difícil mantê-los dentro da estante, quanto mais por ordem alfabética.


Arrumar livros é sem dúvida o programa ideal para uma manhã de Sábado, especialmente se for cinzenta como a de hoje. Claro que eu não consigo manter actividades deste tipo durante muito tempo (com se vê, já estou na internet), isto porque se descobrem sempre coisas surpreendentes. Aqui há umas semanas descobri o exemplar que me foi oferecido, comprado em segunda mão na Trama (que entretanto faliu), de "A Montanha Mágica". Estava desaparecido desde que eu tinha voltado de Coimbra, e foi isso que me fez pensar que tinha de arrumar a estante.


A coincidência de eu ter finalmente encontrado "A Montanha Mágica" quando já não a procurava, ainda é mais interessante porque estava a ler um livro que se referia repetidamente a este, assim como ao "Werther" e ao "Banquete" de Platão. O "Banquete" acabei por fazer o download, uma tradução inglesa e outra em português do Brasil, por isso não vai parar à estante.



O livro que faz estas referências, "Fragmentos de um Discurso Amoroso" de Roland Barthes, foi dos que mais prazer me deu ler nos últimos tempos, e quando peguei nele para o enviar para os confins da estante (cada prateleira tem duas filas de livros, e a ordem alfabética atira o livro do Barthes para a fila de trás), fiquei logo com saudades, e preferia tê-lo por perto para lhe passar os olhos pela capa e a mão pelo pêlo. Mas vai para a estante, a bem da arrumação.


Outro livro de que gostei especialmente, e que se intrometeu no meio de outras leituras (como a dos diários da Susan Sontag que a Filipa me emprestou) foi o "Ravelstein" de Saul Bellow.




Mas descobri outras coisas interessantes, como um pequeno livrinho de ilustração, "Geometria Oculta", que, há já muito tempo, me inspirou para fazer umas figurinhas sobre o vinho.




E o livro do August Sander "Face of Our Time" que não me sai da cabeça e me está a ordenar que faça determinado projecto em fotografia, agora que "Our Time" é claramente uma coisa diferente do tempo do Sander.


Mas já estou atrasada e claro que a estante está mais desarrumada do que quando comecei, e agora tenho de sair fazer outra coisas mais urgentes do que arrumar livros por ordem alfabética de autor.

sexta-feira, novembro 11, 2011

velho/novo

Tenho um novo velho computador, para substituir o computador portátil que usava como Desktop. O velho era um senil intel centrino a 1.5GHZ, este é um core duo a 2.2 GHz. É também um portátil, mas este é gigantesco, pesa mais de 3 Kg, e por isso não vai sair da secretária. Tem o Ubuntu instalado mas quando o liguei fui saudada pelo Windows Vista, e tudo aquilo eram janelinhas a informar-me que tinha de actualizar o anti-virus. O mais difícil no processo de instalar o sistema operativo é gravar um CD que não fique currompido e seja lido sem problemas durante o processo de instalação. Digamos que nesse dia, entre os CDs que estraguei a gravar albuns do iTunes com a ordem errada das músicas e os CDs do Ubunto 11.10, devem ter ido meia dúzia de CDs para o lixo.

Agora, tirando o touchpad que não funciona, e os menus do Acrobat Reader nos quais as letras não aparecem, tudo corre melhor do que antes.