quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Aventura Nocturna 8: eu vi logo que era uma pessoa diferente

Tudo começa no CAM, por volta das 18h30 com o lançamento de um novo livro do fotógrafo Daniel Blaufuks e o encontro com meia dúzia de pessoas conhecidas, um copito de vinho a acompanhar a conversa e o delinear de planos para colaborações futuras. Mas havia propostas a mais curto prazo: assistir ao concerto de lançamento de um disco no Hot Club, às 10h da noite. Aceitei o desafio da Cátia, que me ofereceu jantar em casa dela, mais dois copitos de vinho e outros tantos dedos de conversa.

Fomos a pé para a Praça da Alegria e quando lá chegámos a sala estava cheia e fazia transbordar pessoas até ao pequeno corredor que a antecede. E foi mesmo aí que nos dispusemos a esperar pela nossa oportunidade de entrar. Entretanto já nos tínhamos juntado a um amigo da Cátia que protagonizou uma das cenas de engate mais cómicas a que alguma vez assisti e afugentou umas senhoras italianas que esperavam atrás de nós. Acabou com ele, muito descaradamente, a gritar o número de telefone a uma rapariga que já estava na rua e a repetir-lho em italiano, sendo ela portuguesa. A rapariga prometeu ligar-lhe no dia seguinte, promessa feita também em italiano. Conseguiu, ainda antes de entrarmos, meter-se com a cantora Maria Viana e fazer-nos rir com mais uns quantos disparates.

Depois de entrarmos foi a música a fazer das suas. A Cátia apresentou-me a uma das cantoras e parecia conhecer mais alguns músicos e um rapaz que fazia anos a 29 de Fevereiro, o que é sempre interessante. O ambiente era muito simpático e os meus planos de abandonar o clube a tempo de apanhar o último metro foram rapidamente abandonados. Um dos responsáveis foi um rapaz que tocava harmónica e que me deixou pregada ao chão sempre que eu planeava sair da sala.

Mas lá saímos e o meu plano era ir a pé até à Almirante Reis e aí apanhar o 208, para não ter de pagar um taxi. Na Av. da Liberdade despedi-me da Cátia e do amigo que falava italiano  e desci até ao Rossio, e depois até ao Martim Moniz sempre a cantarolar o My Funny Valentine e Só Danço Samba (vai, vai, vai, vai) que a cantora de belos olhos azuis tinha estado a cantar momentos antes.

Mal começo a subir a Almirante Reis dou logo com uma paragem de autocarro que me informa que o 208 passará dentro de 38 minutos. Decido-me a continuar a andar e a apanhar o autocarro mais acima para não ter de esperar ali parada. Pouco depois um táxi abranda ao passar por mim. Abano a cabeça a informá-lo que não estou interessada e ele arranca, mas muito devagar e pára um pouco mais acima. Começo a pensar que talvez não seja assim tão boa ideia andar por ali a pé. Ultrapasso o táxi que volta a aproximar-se de mim muito devagar. Estou decidida desviar-me da Almirante Reis para impedir que o táxi me pudesse seguir quando vejo que o taxista pára junto de mim, abre a janela e me faz sinal para me aproximar.

Aproximei-me e o senhor oferece-me uma boleia que eu me apresso a recusar. Ele insiste. Não vê que é um perigo andar aqui? Eu vi logo que era uma pessoa diferente. Para onde é que vai? Eu levo-a! Recusei mais algumas vezes mas o senhor parecia tão preocupado comigo que aceitei uma boleia até à Alameda. Depois de entrar no táxi explicou-me que já me tinha visto ao descer a avenida, deu meia volta no Martim Moniz e fez questão de parar para me fazer ver que nem todas as pessoas são mal intencionadas, até porque tinha visto logo que eu era uma pessoa diferente. Eu acabei por aceitar que me trouxesse a casa.

Resumindo: alguns anos depois de um motorista de autocarro me ter ido levar a casa, a Frielas, no próprio autocarro, desviando-se do seu caminho normal e assustando-me ao apagar as luzes do carro porque não ia em serviço, um taxista, às 2h da manhã, dá-me boleia até casa porque acha que é perigoso subir àquela hora, a pé, a Almirante Reis. Eu nunca achei que tivesse ar de donzela em apuros por isso só posso concluir que os motoristas são todos uns corações de manteiga.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Do fundo do baú


 Do fundo do baú

Omar Souleyman, "Atabat"
Austra, "The choke"
Khonnor, "Dusty"
Tim Buckley, "Strange Feelin'"
Scout Niblett, "River of no return"
Laura Arkana, "Huilen"
Stina Nordenstam, "Crime"
Johanna Kunin, "Fireflies"
Terry Callier, "What color is love"
Nicola Conte, "Wanin' moon"
Micatone, "Nomad"


Aqui.

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Aventura Nocturna 7: terror no metropolitano

Acho que não tenho saído muito, uma vez que esta série de aventuras nocturnas não era actualizada há mais de um ano. Na verdade, o post O que parecia a mais fria noite do ano, afinal... até se qualifica como Aventura Nocturna. A de hoje também!

Entrei no metro em S. Sebastião, apanhei o último para não variar, e na carruagem que chegava havia um rapaz a dormir. Eu e um grupo de rapazes indianos (ou paquistaneses, não sei dizer) trocámos uns olhares e finalmente eu decidi-me a levantar-me e tentar acordar o rapaz. O rapaz, apesar dos meus delicados abanões, não acordava, aliás, nem parecia respirar. Desisti mas um dos rapazes indianos resolveu tentar com mais convicção. Eu sentei-me num lugar próximo. Entretanto chega um outro rapaz, português, branco, que substitui o rapaz indiano nas tentativas de acordar o belo adormecido. Este, mais do que convicto, era truculento. Não só conseguiu acordá-lo como começou uma discussão cheia de ameaças a que o belo adormecido respondia muito atordoadamente. Um dos rapazes indianos aconselhou calma e eu viro-me para trás para tentar fazer o mesmo quando vejo que as ameaças já se faziam acompanhar de uma faca.

Levantei-me e dirigi-me ao outro extremo da carruagem, que infelizmente era das pequenas. Sentei-me perto de um outro senhor indiano. Os rapazes indianos que tinham participado na cena também se levantaram e sentaram-se perto de mim, o que me fez sentir segura. Aliás, os sorrisos deles diziam-me que pertencíamos ao mesmo grupo, que nos protegeríamos uns aos outros. Quanto ao rapaz atordoado, não consegui pensar em nada que pudéssemos fazer por ele sem nos arriscarmos a piorar a situação. O alarido no fundo da carruagem continuou mas o rapaz ameaçador acabou por sair, e o rapaz atordoado saiu na estação seguinte.

À medida que chegavam aos seus destinos, os rapazes do meu grupo saíam, sem antes se despedir de mim com um sorriso e um "Tchau, senhora!". Eu retribuí o sorriso e agradeci a companhia.

domingo, fevereiro 05, 2012

O que parecia a noite mais fria do ano, afinal...

... foi a mais quente. Além de um jantar maravilhoso, com uma ementa cheia de coisas como fígado de aves com maçã em vinagre balsâmico, ou picos de matança com figos, cogumelos com castanhas e, claro, muito vinho (foi aqui que tudo começou), a companhia estava animada, tanto por causa da aniversariante (hip hip hooray!) como da visitante estrangeira, a nossa querida Barrrbarrra!

Depois do jantar tivemos a parte desportiva: jogámos um barulhento jogo de basquete numa casa de chá onde éramos os únicos clientes, se ouvia Nick Drake e onde os donos não pareciam especialmente contentes por nos receber. O jogo consistia numa redoma dentro da qual havia um campo com buraquinhos numerados. Nestes buraquinhos havia uma espécie de catapultas, accionadas por uns botões, que faziam a bola saltitar de um sítio para o outro e eventualmente para o cesto. O jogo favorecia um dos lados, o da Marta claro. Descobrimos também que o Jorge gosta de jogar sozinho, fazendo o papel dos dois jogadores, e nem assim consegue ganhar a si próprio!

De Santos para a Bica, novo barzinho para a nossa sessão cultural. Aprendemos, entre outras coisas, o que quer dizer "milf", enquanto se ouvia o álbum da Lana del Rey, agora omnipresente.

Faltava só a sessão de dança que foi muito animada. Há medida que o tempo passava, íamos sendo comprimidos por um número cada vez maior de pessoas e o cansaço começava a pesar. Eu e a Bárbara saímos e deixámos uns ainda animados e enérgicos meninos. E aqui sim começou a noite.

Voltámos para casa calmamente na conversa, no carrito da Barbara. Para os lados de St. Apolónia a polícia mandou-nos parar, soprar no balão, etc, etc. Adivinham o resto. O processo foi lento, a noite estava fria, a multa foi pesada. O carro ficou por lá e voltámos sãs e salvas para casa.

Como disse a Bárbara, é só dinheiro!