Proust, EBTP IV
quarta-feira, janeiro 23, 2013
4/7
"Pensando em todas as paisagens indiferentes que iam iluminar-se e que ainda na véspera apenas me encheriam do desejo de as visitar, não fui capaz de conter um soluço quando, num gesto de ofertório mecanicamente executado e que me pareceu simbolizar o sangrento sacrifício de toda a alegria que iria ter de fazer em cada manhã, até ao fim da minha vida, como renovação solenemente celebrada em cada aurora da minha dor quotidiana e do sangue da minha chaga, o ovo de ouro do Sol, como que propulsionado pela ruptura de equilíbrio que uma alteração de densidade, farpada de chamas como nos quadros, levaria ao momento da coagulação, rasgou impetuosamente a cortina atrás da qual o sentíamos desde há um instante, fremente e prestes a entrar em cena e caminhar, e cuja púrpura misteriosa e imóvel apagou sob as ondas de luz."
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