Um esquema bem montado

Estava e chegar ao trabalho, tarde e a más horas como costume, e passa por mim alguém que rasga um enorme sorriso e quase eufórico lança:
- Bom dia sô'tor!
Simpaticamente, respondi ao bom dia sem fazer puto de ideia de quem era o indivíduo. O gajo arranca para mim numa enorme alegria.
- Como está sô'tor! Eu conheço-o bem sô'tor. É aqui da Física...
Ora bem, a Física, perdão as Físicas - eu às vezes esqueço-me que estou em Coimbra -, era a porta mais perto de onde estávamos.
- ... Pois a minha mãe trabalhava na secretaria, eu conheço toda a gente lá... - blá, blá, blá, conversa de encher.
Respondi que estava enganado pois eu era da Matemática. Nem pestanejou e continuou o paleio.
- Ah, é uma pena a minha mãe já não trabalhar lá, senão eu poderia ter acesso ao processo do sô'tor.
Primeiro, se todas as funcionárias deixam os filhos mexer nos processos que para aqui andam isto está lindo está. Segundo, sentir-me-ia logo amigo inseparável de alguém que me abordasse e dissesse que andou a consultar o meu processo. Terceiro, acabei de lhe dizer que não era da Física - das Físicas, das Físicas, pôrra.
Entretanto a euforia passa a tristeza e já a sua mãe tinha morrido com toda a mazelas deste mundo, deixando-o com uma reforma de miséria, ele não arranjava emprego, não bebia nem se drogava, por isso é que tinha bom aspecto - na cabeça dele pelo menos -, e que se eu lhe pudesse emprestar algum dinheiro que ele dia 28 já me pagava.
Será que je endrominou alguém? Eu acho o esquema bom. A cena da reforma é pouco consistente, mas passa. Foi pena eu não ser da Física, senão tinha-lhe dado guito.