domingo, novembro 20, 2011

12 horas

Há pessoas que têm o condão de me fascinar, e enquanto estou envolta nos seus vapores mágicos, reparo que fascinam também outras, mas não todas, formando-se assim uma irmandade de encantados. De vez em quando dou-me conta que exerço um fascínio do mesmo tipo em pessoas que me fascinam e isso, além de me surpreender, deixa-me em pânico, sempre a pensar que vou quebrar o feitiço com algum disparate, dito ou feito. Este encantamento, por vezes mútuo, é baseado no desconhecido. É o que não sabemos da pessoa, o que imaginamos, e que tem obviamente de ser perfeito, que nos fascina. A revelação dessa parte oculta tem de ser doseada, feita com delicadeza, por isso as amizades são construídas devagarinho, com gestos cuidadosos.

Passei o dia de hoje a observar estes comércios, a desvendar jogadas, a admirar-me do poder que alguns seres têm de atrair pessoas, umas vezes por razões tão obvias como a beleza, outras por razões difíceis de descortinar mas fáceis de sentir.

"A" fascina-me. Não se bem porquê, não é especialmente bonita, não consigo dizer o que tem de tão interessante. Só arranjo justificação para o meu interesse quando vejo o interesse que ela suscita em B e em C, que eu não conheço e ela despreza. A, pelo contrário, fica nervosa e faladora na presença de D. Isto eu percebo, D também me tira do sério, é muito cativante, bonito, com gestos ternos. Mas ele é demasiado bonito, portanto é demasiado óbvio deixarmo-nos cativar por alguém assim. É o mesmo que dizer que estamos apaixonados por uma estrela de cinema, que valor pode isso ter?

Admiro automaticamente B e C, apesar de não os conhecer, porque se sentem fascinados por A, pertencemos à tal irmandade. E o interesse de A por D, que em parte partilho, também nos aproxima. E o fascínio que A sente por mim lisonjeia-me e surpreende-me. E tudo isto é belo e ridículo ao mesmo tempo, emocionante e comovente, porque nada se joga aqui, não há prémio, é o jogo pelo prazer do jogo, uma peça sem desfecho.

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