Às segundas feiras levanto-me cedo e vou para Coimbra. Ía de autocarro e não me desagradava a ideia de acordar cedo para de seguida me deixar embalar pelo movimento do autocarro e adormecer de novo. Era um sono leve, a realidade e o sonho misturadas, a consciência sempre a espreitar para evitar que me esquecesse do meu destino. O comboio é diferente. Chego à gare do oriente logo pela manhã, a luz branca de ter sido lavada com a humidade da noite, a agitação de quem chega à cidade pronto para trabalhar, e eu ainda dormente do sono, com mais duas horas de liberdade mental para deixar os pensamentos e os olhos deambularem alternadamente pelos livros e pelo sono.
Hoje faço a viagem durante a noite. Não é segunda feira e o dia foi longo. Quando chegar a casa vou convencer-me que é segunda feira de manhã e deixar que o movimento do autocarro me embale e me leve para as regiões fantásticas do sonho.
14 de Novembro, 22h , Alfa Pendular
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