Não é óbvio que o protagonista sinta vergonha do que faz, apesar de me parecer evidente que quer parar, que o quer substituir por algo que o preencha mais efectivamente. Quer também livrar-se de um vício, está farto de ser seu escravo, e por isso deita para o lixo aquele saco cheio com os objectos da sua dependência.
Há uma situação que se me apresenta como ambígua, quando o protagonista surpreende a irmã em sua casa. Eu passo a cena toda, que me parece muito longa, a tentar perceber se ele está ou não incomodado com a sua nudez, se ele não se mostra incomodado para que o incómodo não substitua a cólera que lhe está a mostrar sentir, e se ela não se cobre com a toalha que o irmão lhe passa porque o quer provocar ou se simplesmente a relação daqueles dois irmãos é desinibida a esse ponto.
Mas e então a cena em que entram os três em casa do protagonista, os irmãos e o chefe dele, e o protagonista se vê na sala do apartamento, obrigado a ouvir o que se passa no quarto. Mais uma vez não parece que o sexo o embarace, deixa-o antes furioso, atira-o para a rua para uma corrida nocturna, mas não é claro o motivo, já que a fúria não é suficiente para que tente impedir o que se passa entre a sua irmã e o seu chefe. Está furioso por ver a sua irmã usada? Por ver que a sua irmã se deixa usar? Porque a sua submissão ao chefe é tal que o impede de agir?
E que papel está a representar no encontro com a sua colega de trabalho. E qual é a diferença entre a rapariga do metro e a rapariga que o chefe tenta engatar no bar? E porque é que, sendo por vezes tão frio, mostra momentos de tanta fragilidade? E em que e que é diferente do chefe, da irmã, de qualquer um de nós?
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