sábado, março 31, 2012

Tormenta cerebral...

... foi, parece-me, a primeira tradução que vi para a expressão brainstorm. Tem origem no Brasil e provavelmente nós diríamos tempestade cerebral, com as descargas eléctricas a simbolizarem as trocas químicas nas sinapses de um cérebro activo, prestes a ter uma ideia brilhante. Tormenta, no nosso português, soa um pouco mais doído.

Mas outras expressões me chamaram a atenção no texto da catálogo do Bes Photo relativo à exposição de Rosângela Rennó.

"Fazer cada vez melhor mas sem a intenção de chegar a nenhum lugar, apenas com a intenção de aprimorar e, assim, tornar-se um ser humano melhor."

O sublinhado é meu. Mais à frente a entrevistadora, que salvo erro se chama Verónica Cordeiro, cita as Cidades Invisíveis de Italo Calvino, a fotógrafa cita os livros de Harry Potter, num texto interessante que folheei durante a visita à exposição.

A exposição de Mauro Pinto mostra o interior de habitações muito modestas, de madeira e zinco, mas com uma luz muito bonita. As casas parecem arrumadas e transmitem a mesma dignidade que senti no Bairro da Torre, numa em que eu e o Loïc fomos convidados para jantar. Era o lar de uma rapariga e dos seus três filhos, uma casa semi destruída mas arrumada, com flores artificiais a enfeitar a mesa. Essa recordação fez-me ver de forma mais comovida as imagens do moçambicano.

Com  intervalo de uma semana vejo a segunda exposição feita a partir de fotografias antigas. A semana passada vi a de Carla Cabanas, esta semana a de Duarte Amaral Neto. Na verdade a de Rosangela Renó também o é. E como eu própria também ando a revisitar albuns de família, da minha e de outras, percebo muito bem este interesse por imagens do passado "que despertam uma vontade de desenvolver um enredo a partir delas".

Devo dizer que o meu fascínio por fotografias, minhas e de outros, aumenta cada vez mais. Todas as imagens parecem transportar uma carga que eu não consigo deixar de associar à ficção, à mesma ficção que vemos no cinema, a de uma memória construída pela nossa imaginação.



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