O telefone tocava e a campainha irritava-me com a sua pressa. À medida que ía acordando apercebi-me que já era dia. Talvez nem fosse tão cedo como isso. Ao som da campainha recordava a noite anterior, tentava separá-la do sonho que tinha sido interrompido pelo telefone.
"já não fazemos nada aqui, é melhor irmos dormir". Sim, dormir mais um bocadinho, pensava eu enquanto tentava enfiar uns chinelos nos pés. ... uma rapariga tinha desmaiado ao pé da gare...antes que pudesse reagir estava a ser puxado pelo braço...
- Está?- ...uma perseguição de carro...
- Ainda a dormir? Pensei que a curiosidade não te deixasse pregar olho!
- Claro, não preguei olho. Por isso gostava de dormir mais uma bocado.- ...um francês...
- Tens de cá vir. Há provas novas e gostava de discutir o assunto contigo.
- Ouve lá, aquela rapariga não morreu, pois não?
- A francesa? Como é que queres que saiba?
- A francesa?- ...uma francesa... - Não, a rapariga da gare.
- Qual rapariga da gare? A do café?
- Esquece! Eu vou já aí ter.
O digno e inteligente detective não tinha visto a rapariga desmair, estava sentado na mesa do café. Mas tinha visto um francês e por causa dele tinha-me arrastado numa perseguição um tanto ou quanto louca. E agora novas provas. O que seria agora?
Cheguei ao gabinete do detective e ele levou-me até ao bar para tomarmos uma café. Deve ter percebido que eu precisava. Acendeu devagar um cigarro com um fósforo que tirou lentamente de uma pequena carteira de fósforos.
- Deixa-me adivinhar,- não resisti a dizer- os bandidos deixaram uma carteira de fosforos algures. A carteira tem a morada de um bar obscuro e um número de telefone. Possivelmente até um nome misterioso. Acertei?
- Não!
- Já sei - continuei em tom sarcástico- é alguém que aposta os seus dedos em como o seu isqueiro se acende sempre.
- O quê? O que é que estás para aí a dizer?
- Lepra? "Onde é a casa de banho? Siga o dedo."
- O quê?
- Tiraste as impressões digitais do dedo e no computador apareceu a cara de um francês de nariz vermelho que rapta ciclistas
e os leva para os Estados Unidos?
- Bebe o teu café.
- Foi o cão dos Baskerville que os arrancou? O homem do "Piano", do "Adeus minha Concubina", o grande Lebowski?
-Pára com essas parvoíces. Vou contar-te.
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