Em cada gato há outro gato
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco.
Um gato incoincidente
com o gato, iridescente,
caminhando à sua frente
ou a seu lado,
espírito alado
do que é terrestre no gato.
É o segundo gato
que permanece acordado
com o gato afundado
em sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato.
Ou que, mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,
às vezes assomado
nos olhos do gato
como um passado imóvel e
enclausurado.
O próprio gato
não sabe
que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si.
Manuel António Pina
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