Já era noite. Regressava como sempre de comboio, que como sempre estava cheio. A fauna era a habitual: uma criança barulhenta a correr pelo corredor, duas amigas de meia idade a falar mal das noras, alguém a gritar ao telemóvel "tou? tá? não tenho rede, tou, estás a ouvir?". No fundo da carruagem surge um homem com ar severo, olhando para a numeração dos lugares. Para e olha reprovadoramente para uma senhora bem vestida. Posso adivinhar a conversa. Têm bilhetes para o mesmo lugar. Posso adivinhar como acaba. Um deles está na carruagem errada. Mas já não me interessa quem ganha.
Instalo-me. Tiro um livro do saco que pouso no colo e olho para a televisão pequenina no tecto da carruagem. Deixo-me adormecer.
A conversa de engate do banco à minha frente desperta-me mas antes de conseguir abrir os olhos um grito no final na carruagem põe-me definitivamente em alerta.
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