sexta-feira, março 30, 2007
Bobby McFerrin bach gounod
A música continua a comover-me... Deve ter sido uma coisa fantástica estar aqui! Reparem nas caras das pessoas, reparem nos sorrisos, reparem nos olhares, reparem na música. Podem por em ecrã completo que não aguenta mal. Clicar 2 vezes para abrir o youtube e depois colocar em completo.
quinta-feira, março 29, 2007
Está quase...
Assurancetourix o bardo, não conseguiria fazer melhor. Este vai ser o concerto do ano em Portugal:
To be continued...
To be continued...
Ursula Rucker - A história do concerto
Aconteceu mais ou menos assim. No palco uma mulher cantava, ou melhor, dizia os seus poemas companhada de dois músicos. Parecia desconfortável. Pedia para baixarem as luzes do palco, dizia que não via o público, sentia-se longe do público. Mas nem por isso deixava de desfiar canções, transmitindo força, não se rendendo à aparente indiferença das pessoas que se sentavam na escuridão à sua frente. Os técnicos fizeram baixaram as luzes do palco, iluminaram a plateia mas nada disto melhorava o ambiente. Esta sensação de desconforto, que nós do lado de cá também sentíamos, culminou numa música em que Ursula Rucker perguntava se estávamos preparados para a revolução e pedia que nos manifestassemos estendendo o braço com o punho fechado. Viram-se três ou quatro braços e a cantora concluiu que não estavamos preparados. O concerto continuou mais ou menos neste ambiente até à penúltima música. Desta vez a cantora pede, num dos seus poemas, para libertármos o nosso coração. Diz também que aquilo não é um espetáculo, que quer comunicar e por isso pede uma reacção. A sala reaje aplaudindo e uma pessoa levanta-se. Uma segunda pessoa põe-se também de pé, outra e mais outra, e o resto da música, que vai durar ainda uns bons minutos, é acompanhada por estes aplausos que não diminuem o seu ritmo nem o seu volume, e as pessoas continuam de pé. Tinha-se finalmente quebrado o gelo. Visivelmente emocionada Ursula Rucker diz-se simplesmente sem palavras. Canta mais uma música e os aplausos fazem-na voltar para uns extras e a promessa de vir falar ao público no exterior da sala.
Os seus poemas falam de mulheres, de negros e brancos, da sociedade, das guerras. São muito claros, muito explícitos e combativos. Alguns são longas listas de artistas ou deuses ou injustiças. A música que acompanha a sua voz, um guitarrista e um baterista, é interessante, com alguns efeitos sonoros que enchem o palco. A voz de Ursula Rucker está cheia de força. Ela sim parece estar preparada para a revolução. E provavelmente já começou a fazê-la.
O PedroMS tinha já deixado um post em que se pode ouvir um dos poemas de Ursula Rucker.
Os seus poemas falam de mulheres, de negros e brancos, da sociedade, das guerras. São muito claros, muito explícitos e combativos. Alguns são longas listas de artistas ou deuses ou injustiças. A música que acompanha a sua voz, um guitarrista e um baterista, é interessante, com alguns efeitos sonoros que enchem o palco. A voz de Ursula Rucker está cheia de força. Ela sim parece estar preparada para a revolução. E provavelmente já começou a fazê-la.
O PedroMS tinha já deixado um post em que se pode ouvir um dos poemas de Ursula Rucker.
quarta-feira, março 28, 2007
terça-feira, março 27, 2007
Times Square
Durante alguns anos a sede do jornal New York Times foi o edifício agora chamado One Times Square, construido em 1904. Tem 25 andares e era na altura o segundo mais alto edificio do mundo, com 120 m de altura e ficava na Longrave Square.Como terão adivinhado o nome da praça mudou para Times Square. A inauguração deste edificio foi celebrada a 1 de Janeiro de 1905, com fogo de artificio, celebração foi mantida desde essa altura. Desde 1907 que a famosa bola é atirada do cimo este edificio todas as passagens de ano.
A praça, Times Square, não sei se será exactamente uma praça. Talvez seja mais um cruzamento. Está cheia de luzes e ecrãs, cheia de gente, tanto durante o dia como durante a noite. Até o metro é assinalado com luzinhas que piscam e brilham. Estive por lá numa sexta feira à noite. As lojas estam abertas, até a loja ou o mundo dos M&Ms, aqueles chocolates coloridos aos quais nunca tinha dado muita importância.
segunda-feira, março 26, 2007
O grilo
Quem não sabe fica a saber que no 4º piso do DF do edifício C8 da FCUL, foi instalada num certo e determinado laboratório de medição de propriedades magnéticas uma máquina infernal que devido...digamos...ao ruído quase incessante tem deixado meia dúzia de cientistas com muito trabalho, à beira de um ataque de nervos. Promessas de que determinado dispositivo para erradicar o problema seria rapidamente instalado foram feitas. Três semanas já passaram desde então. Ao estilo Gandhi de protesto pacífico, um "anónimo", colocou uma cópia do seguinte poema junto ao dito cujo:
Tem muito estilo o grilo
(pena dar-lhe pràquilo…)
Quanto quilo de alface
(a alface é ao quilo?)
não comeu já o grilo
para ter tanto estilo!
Faz cri-cri no meu verso,
faz cri-cri no meu quilo.
Cri-cri faz no ouvido
e quase no mamilo.
Dá-se ao grilo a folhinha
mas não guarda sigilo.
Ao canário da alpista
(também telegrafista)
que não anunciasse
logo o meu grilo: alface!
Assim te conto o grilo
se não fores repeti…
Se não fores repeti-lo .
(Alexandre O’Neill)
P.S.: dia mundial da poesia é todos os dias.
Tem muito estilo o grilo
(pena dar-lhe pràquilo…)
Quanto quilo de alface
(a alface é ao quilo?)
não comeu já o grilo
para ter tanto estilo!
Faz cri-cri no meu verso,
faz cri-cri no meu quilo.
Cri-cri faz no ouvido
e quase no mamilo.
Dá-se ao grilo a folhinha
mas não guarda sigilo.
Ao canário da alpista
(também telegrafista)
que não anunciasse
logo o meu grilo: alface!
Assim te conto o grilo
se não fores repeti…
Se não fores repeti-lo .
(Alexandre O’Neill)
P.S.: dia mundial da poesia é todos os dias.
sábado, março 24, 2007
quinta-feira, março 22, 2007
Metropolitan museum of art
Continuando o relato dos três dias passado sem Nova York é agora altura de contar o dia passado no MET. Chegámos ao museu pela manhã. Chovia e por isso parecia um bom dia para passar no museu. De qualquer forma tinhamos planeado sair a meio da tarde. De facto à tarde o sol apareceu como que a convidar-nos para um passeio no parque ali ao lado, o Central Park, mas não conseguimos sair dali tendo ainda tanta coisa para ver, principalmente porque tudo parecia fascinante
O museu é enorme e de uma varidade comparavel à do Louvre. Para além de uma coleção de pintura europeia muito interessante, em que se vai de parede em parede a exclamar: "Então é aqui que está este quadro!", tem arte de todos os cantos do mundo e de todo o tipo de expressões. É um tanto ou quanto surpreendente entrar numa sala do museu completamente mobilada, incluindo os paineis de madeira das paredes, com os objectos de um qualquer palácio ou igreja europeia. Ou mesmo um palácio egípcio. Talvez fosse boa ideia descrever mais calmamente mas não estou a ver como.
Gostei particularmente de ver as colecções de arte asiática. Objectos que normalmete via como "étnicos", desta vez tocaram-me de uma forma independente da sua proveniência, tanto geográfica como temporal. Outros objectos tocaram-me pela sua antiguidade, como os barquinhos egípcios que mantêm cores vivas e a expressividade próxima da que mostravam à 4000 anos.
Outra colecção que me impressionou foi a colecção de cerâmica grega, com aqueles desenhos a negro sobre fundo vermelho ou vice-versa. Vou-me lembrando de todo o tipo de coisas desde as armaduras de cavaleiros medievais, europeus, cavaleiros japoneses ou de outras proveniencias, pintura contemporânea, fotografia, desenhos, pintura de todos os séculos, biombos chinese, quimonos japoneses, e tudo o resto que agora não me ocorre.
Almoçámos numa das cafetarias do museu. À nossa volta grupos de estudantes de arte com enormes cadernos de desenho e sacos cheios de todo o tipo de ferramentas faziam também uma pausa. Deve ser o melhor sítio para estudar arte. No fim do dia sentámo-nos num barzinho também do museu onde um pequeno grupo de música de câmera fazia a sua actuação. Nem isso nos prendeu. Continuámos a vaguear pelo museu sempre em busca de mais uma colecção. Bem o melhor é deixar algumas fotos e a sugestão da visita quer ao vivo quer virtual.
O museu é enorme e de uma varidade comparavel à do Louvre. Para além de uma coleção de pintura europeia muito interessante, em que se vai de parede em parede a exclamar: "Então é aqui que está este quadro!", tem arte de todos os cantos do mundo e de todo o tipo de expressões. É um tanto ou quanto surpreendente entrar numa sala do museu completamente mobilada, incluindo os paineis de madeira das paredes, com os objectos de um qualquer palácio ou igreja europeia. Ou mesmo um palácio egípcio. Talvez fosse boa ideia descrever mais calmamente mas não estou a ver como.
Gostei particularmente de ver as colecções de arte asiática. Objectos que normalmete via como "étnicos", desta vez tocaram-me de uma forma independente da sua proveniência, tanto geográfica como temporal. Outros objectos tocaram-me pela sua antiguidade, como os barquinhos egípcios que mantêm cores vivas e a expressividade próxima da que mostravam à 4000 anos.
Outra colecção que me impressionou foi a colecção de cerâmica grega, com aqueles desenhos a negro sobre fundo vermelho ou vice-versa. Vou-me lembrando de todo o tipo de coisas desde as armaduras de cavaleiros medievais, europeus, cavaleiros japoneses ou de outras proveniencias, pintura contemporânea, fotografia, desenhos, pintura de todos os séculos, biombos chinese, quimonos japoneses, e tudo o resto que agora não me ocorre.
Almoçámos numa das cafetarias do museu. À nossa volta grupos de estudantes de arte com enormes cadernos de desenho e sacos cheios de todo o tipo de ferramentas faziam também uma pausa. Deve ser o melhor sítio para estudar arte. No fim do dia sentámo-nos num barzinho também do museu onde um pequeno grupo de música de câmera fazia a sua actuação. Nem isso nos prendeu. Continuámos a vaguear pelo museu sempre em busca de mais uma colecção. Bem o melhor é deixar algumas fotos e a sugestão da visita quer ao vivo quer virtual.
quarta-feira, março 21, 2007
TEORIA DA COMPOSIÇÃO:
...a pequena gata (1)
A pequena gata fitava cada um dos meus gesto
com os olhos muito atentos tentando entender,
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
cada palavra que eu escrevia
no papel; que coisa veria
ela, que sentido a prenderia?
Os gatos mais velhos e os homens mais novos
não se interessam por coisas tão fúteis.
...a pequena gata (2)
A pequena gata fitava cada um dos meus gestos
com atentos olhos tentando entender
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
as palavras que eu escrevia
observando o modo como ela seguia
cada um dos meus gestos.
Os gatos mais velhos não se interessam
por coisas tão fúteis, olham através delas,
os olhos dissolvendo-se em lugares lúcidos
e exteriores onde nem os gatos alcançam.
...a pequena gata (3)
Olhos atentos tentando entender,
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
as palavras que eu ia escrevendo,
a pequena gata seguia cada um dos meus gestos
como se fossem incertos insectos
correndo inquietos sobre o papel.
Os gatos velhos e os homens jovens
não se interessam por coisas fúteis como
palavras escrevendo e gatos atentos,
têm pouco tempo, sobretudo por dentro.
Manuel António Pina
A pequena gata fitava cada um dos meus gesto
com os olhos muito atentos tentando entender,
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
cada palavra que eu escrevia
no papel; que coisa veria
ela, que sentido a prenderia?
Os gatos mais velhos e os homens mais novos
não se interessam por coisas tão fúteis.
...a pequena gata (2)
A pequena gata fitava cada um dos meus gestos
com atentos olhos tentando entender
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
as palavras que eu escrevia
observando o modo como ela seguia
cada um dos meus gestos.
Os gatos mais velhos não se interessam
por coisas tão fúteis, olham através delas,
os olhos dissolvendo-se em lugares lúcidos
e exteriores onde nem os gatos alcançam.
...a pequena gata (3)
Olhos atentos tentando entender,
absolutamente parada, a cabeça tensa,
as orelhas espetadas como se pudesse ouvir
as palavras que eu ia escrevendo,
a pequena gata seguia cada um dos meus gestos
como se fossem incertos insectos
correndo inquietos sobre o papel.
Os gatos velhos e os homens jovens
não se interessam por coisas fúteis como
palavras escrevendo e gatos atentos,
têm pouco tempo, sobretudo por dentro.
Manuel António Pina
O segundo gato
Em cada gato há outro gato
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco.
Um gato incoincidente
com o gato, iridescente,
caminhando à sua frente
ou a seu lado,
espírito alado
do que é terrestre no gato.
É o segundo gato
que permanece acordado
com o gato afundado
em sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato.
Ou que, mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,
às vezes assomado
nos olhos do gato
como um passado imóvel e
enclausurado.
O próprio gato
não sabe
que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si.
Manuel António Pina
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco.
Um gato incoincidente
com o gato, iridescente,
caminhando à sua frente
ou a seu lado,
espírito alado
do que é terrestre no gato.
É o segundo gato
que permanece acordado
com o gato afundado
em sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato.
Ou que, mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,
às vezes assomado
nos olhos do gato
como um passado imóvel e
enclausurado.
O próprio gato
não sabe
que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si.
Manuel António Pina
l(a... (a leaf falls on loneliness)
l(a
le
af
fa
ll
s)
one
l
iness
e.e.cummings
le
af
fa
ll
s)
one
l
iness
e.e.cummings
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá-Carneiro
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá-Carneiro
Os amantes sem dinheiro
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
Eugénio de Andrade
Poema da Morte na Estrada
Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.
A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.
Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.
Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.
Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento
Não lhes deu tempo para pensar em nada.
Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.
António Gedeão-
original em "Linhas de Força"- 1967
Retitado de "Obra Completa"- 2004- Relógio D'Água
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.
A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.
Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.
Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.
Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento
Não lhes deu tempo para pensar em nada.
Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.
António Gedeão-
original em "Linhas de Força"- 1967
Retitado de "Obra Completa"- 2004- Relógio D'Água
terça-feira, março 20, 2007
O Silêncio...
sábado, março 17, 2007
O regresso do génio
Cristiano Ronaldo está de volta a casa. Próximo sábado(24 de Março)às 21h, Portugal-Bélgica no estádio José de Alvalade. Bilhetes a partir de 5€.
quinta-feira, março 15, 2007
MoMA
Claude Monet. Reflexos de Núvens no Lago de Nenúfares, c. 1920
Mesmo sem as fotografias que gostava de mostrar, fica aqui um pequeno relato da nossa visita ao Museum of Modern Arte.
Passámos no museu apenas uma curta manhã e príncipio de tarde. O museu tem seis pisos, se não estou em erro. O nosso percurso foi feito no sentido ascendente e eu fiquei-me pelo quinto piso, mesmo assim visto à pressa. É neste piso que estão aquelas obras de pintura que nós tão bem conhecemos dos livros, das reproduções. É neste piso que se podem ver as pinturas de van Gogh, Monet, Picasso ou de Pollock. Devo confessar que não me recordo de tudo o que vi mas lembro-me da emoção de estar em frente a alguns dos quadros. Esta emoção provinha por um lado do facto de se estar em frente a algo extremamente valioso, uma espécie de objecto sagrados da cultura ocidental, a relíquia de um santo. Mas provinha também de uma espécie de surpresa. Alguns quadros surpreendem pela sua dimensão, outros pelas texturas, impossíveis de ver nos livros, e todos transmitem algo novo, uma comoção que eu antes só associava à música, um conhecimento mais profundo do mundo.
Os quadros de Picasso são enormes, o quadro de Dali, o dos relógios moles, é pequenino, Os nenufares de Monet é constituido por três telas enormes, como se nos mergulhasse no lago dos nenufares, os tornozelos frios da água e do lodo, um dos quadro de Pollock também é enorme, convidando-nos a outra espécie de mergulho.
Fiz a visita com a ajuda de um "audio-guide". Descobri que, para além das esperadas informações úteis acerca das obras, este aparelho permite marcar bom ritmo à visita, demoramo-nos em cada obra o tempo suficiente para a apreciar.
Outra das secções que também apreciei foi a de fotografia. O interesse do Hugo pela fotografia tem-me levado a aprender algumas coisas, e foi engraçado reconhecer o nome de alguns fotografos, principalmente do início do sec. XX. E claro que também gostei muito do piso de arte comtemporânea. Lembro em especial de um filme que mostrava uma rapariga sorridente a passear pelas ruas de uma cidade, com uma enorme flor nas mãos que usava para destruir, de vez em quando, os vidros dos carros estacionados, sem nunca abandonar o seu sorriso radioso.
Quando a manhã chegou ao fim e almoçámos numa das cafetarias do museu, lugar simpático e cheio de gente, onde recuperámos forças para o resto da visita. Quando abandonámos o museu sentia-me um pouco nas nuvens.
Agora, ao dar uma vista de olhos pela página do museu vou relembrando o que vi, e vendo tudo o que poderia ter visto com mais algum tempo. Mas isto só quer dizer que tenho de lá voltar!
(os três quadros são de: Vincent van Gogh, Retrato de Joseph Roulin, Arles, 1889; Henri Rousseau, O Cigano Adormecido, 1897; Giorgio de Chirico, A canção de Amor, Paris, 1914)
Mesmo sem as fotografias que gostava de mostrar, fica aqui um pequeno relato da nossa visita ao Museum of Modern Arte.
Passámos no museu apenas uma curta manhã e príncipio de tarde. O museu tem seis pisos, se não estou em erro. O nosso percurso foi feito no sentido ascendente e eu fiquei-me pelo quinto piso, mesmo assim visto à pressa. É neste piso que estão aquelas obras de pintura que nós tão bem conhecemos dos livros, das reproduções. É neste piso que se podem ver as pinturas de van Gogh, Monet, Picasso ou de Pollock. Devo confessar que não me recordo de tudo o que vi mas lembro-me da emoção de estar em frente a alguns dos quadros. Esta emoção provinha por um lado do facto de se estar em frente a algo extremamente valioso, uma espécie de objecto sagrados da cultura ocidental, a relíquia de um santo. Mas provinha também de uma espécie de surpresa. Alguns quadros surpreendem pela sua dimensão, outros pelas texturas, impossíveis de ver nos livros, e todos transmitem algo novo, uma comoção que eu antes só associava à música, um conhecimento mais profundo do mundo.
Os quadros de Picasso são enormes, o quadro de Dali, o dos relógios moles, é pequenino, Os nenufares de Monet é constituido por três telas enormes, como se nos mergulhasse no lago dos nenufares, os tornozelos frios da água e do lodo, um dos quadro de Pollock também é enorme, convidando-nos a outra espécie de mergulho.
Fiz a visita com a ajuda de um "audio-guide". Descobri que, para além das esperadas informações úteis acerca das obras, este aparelho permite marcar bom ritmo à visita, demoramo-nos em cada obra o tempo suficiente para a apreciar.
Outra das secções que também apreciei foi a de fotografia. O interesse do Hugo pela fotografia tem-me levado a aprender algumas coisas, e foi engraçado reconhecer o nome de alguns fotografos, principalmente do início do sec. XX. E claro que também gostei muito do piso de arte comtemporânea. Lembro em especial de um filme que mostrava uma rapariga sorridente a passear pelas ruas de uma cidade, com uma enorme flor nas mãos que usava para destruir, de vez em quando, os vidros dos carros estacionados, sem nunca abandonar o seu sorriso radioso.
Quando a manhã chegou ao fim e almoçámos numa das cafetarias do museu, lugar simpático e cheio de gente, onde recuperámos forças para o resto da visita. Quando abandonámos o museu sentia-me um pouco nas nuvens.
Agora, ao dar uma vista de olhos pela página do museu vou relembrando o que vi, e vendo tudo o que poderia ter visto com mais algum tempo. Mas isto só quer dizer que tenho de lá voltar!
(os três quadros são de: Vincent van Gogh, Retrato de Joseph Roulin, Arles, 1889; Henri Rousseau, O Cigano Adormecido, 1897; Giorgio de Chirico, A canção de Amor, Paris, 1914)
terça-feira, março 13, 2007
USA
Como se podia esperar o nosso primeiro dia de turismo em Nova York começou, depois do pequeno almoço a que já fiz referência por alto, com um reconhecimento da geografia da zona. No post anterior podem ver uma catedral que com certeza não é pequena, mas devo dizer que se perde um pouco a noção das escalas.
Durante a manhã eu e o Micael, o meu colega aqui de Coimbra, limitámo-nos a passear pela zona do Rockefeller Center, em torno da pista de gelo onde uma rapariga patinava com mais jeito do que os outros. Eu ía olhando para cima, para os arranha-céus, tirando fotos como qualquer turista. O tempo estava surpreendentemente bom, sol, o frio não era demasiado.
O passeio continuou pelas lojas caras, nariz nas montras. Descobrimos uma loja da Aerosoles, que se não me engano é uma marca portuguesa. Ainda tenho de confirmar! O Micael ficou bastante impressionado. O fim da manhã acabou no MoMA, mas isso fica para o próximo post.
Half Nelson
A feel bad movie. Grande casting, grande banda sonora. Um filme independente Americano que ficou mais barato que um filme tuga do Manoel de Oliveira.
sexta-feira, março 09, 2007
quinta-feira, março 08, 2007
Notícias dos States
Hoje que tenho um bocadinho de tempo no computador aproveito para dar notícias da viagem. Hoje de manhã fiz gazeta à conferência e aproveitei para dar um passeio por Denver. O tempo estava muito bom, com um sol quente e brilhante que talvez anuncie já a Primavera. Sentei-me num banco de jardim e comecei a tomar notas sobre a viagem a Nova Yorque.
Não se pode dizer que esta viagem esteja a correr mal, bem antes pelo contrário, mas a chegada a NYC começou com uma pequena aventura. Apanhámos um taxi no aeroporto. Antes de entrarmos para o taxi uns funcionários da empresa perguntam-nos o destino e informam-nos do preço a pagar. Funciona tudo muito bem, apenas com uma peculiaridade: temos de ser nós a pagar as portagens! Devo confessar que não sei se em Portugal se passa da mesma forma, não me lembro de passar uma portagem de taxi! A aventura resumiu-se ao facto do nosso motorista não nos entender e nós também não o enterdermos, deixando-nos na rua 32 em vez da rua 23. Já tentei perceber como pode ter surgido o mal entendido mas nada me ocorre: thirty second, twenty third, ... enfim! Lá fomos nós a arrastar as nossas malas por quase dez ruas, mas o passeio não foi desagradável.
Finalmente chegámos ao nosso hotel de freiras, que nos prometia panquecas caseiras para o pequeno almoço. E cumpriu sim senhora, graças a Deus com certeza, com aquele xarope de acer ou lá o que é, muito bom, e muffins, e ovos e bacon (um dos dias havia douradinhos), louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, tinha sumo de laranja, maçã e outros com cores suspeitas. Mas isso foi no dia seguinte, lá chegaremos, que agora ficamos por aqui.
Não se pode dizer que esta viagem esteja a correr mal, bem antes pelo contrário, mas a chegada a NYC começou com uma pequena aventura. Apanhámos um taxi no aeroporto. Antes de entrarmos para o taxi uns funcionários da empresa perguntam-nos o destino e informam-nos do preço a pagar. Funciona tudo muito bem, apenas com uma peculiaridade: temos de ser nós a pagar as portagens! Devo confessar que não sei se em Portugal se passa da mesma forma, não me lembro de passar uma portagem de taxi! A aventura resumiu-se ao facto do nosso motorista não nos entender e nós também não o enterdermos, deixando-nos na rua 32 em vez da rua 23. Já tentei perceber como pode ter surgido o mal entendido mas nada me ocorre: thirty second, twenty third, ... enfim! Lá fomos nós a arrastar as nossas malas por quase dez ruas, mas o passeio não foi desagradável.
Finalmente chegámos ao nosso hotel de freiras, que nos prometia panquecas caseiras para o pequeno almoço. E cumpriu sim senhora, graças a Deus com certeza, com aquele xarope de acer ou lá o que é, muito bom, e muffins, e ovos e bacon (um dos dias havia douradinhos), louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, tinha sumo de laranja, maçã e outros com cores suspeitas. Mas isso foi no dia seguinte, lá chegaremos, que agora ficamos por aqui.
terça-feira, março 06, 2007
Sonhos
Já li "os papéis de K." e gostei. A propósito, a escrita da tese teve um aspecto positivo na minha vida(!). Já há muito tempo que não tinha sonhos (ou me lembrava disso) nem acordava depois de uma sessão dessas. É até um bom sinal. Os meus neurónios andam com certeza fazer horas extraordinárias e por isso com muitas ideias para arrumar durante a noite.
Só é pena não serem sonhos eróticos.
Só é pena não serem sonhos eróticos.
Um olá rápido
Estou presa em Denver, Colorado, numa conferencia gigante de físicos. Nao tenho tido oportunidade para dar noticias, mas em breve vos contarei tudo, incluindo os tres dias de turismo em NYC. Até breve.
segunda-feira, março 05, 2007
sábado, março 03, 2007
sexta-feira, março 02, 2007
Ingres, ManRay e a música
A propósito de fotografia "Le Violon d'Ingres" de Man Ray que coloquei no blog Photography and Image fiz esta montagem.
À esquerda um quadro de Ingres, a meio a fotografia de Man Ray e à direita um instrumento de cordas.
À esquerda um quadro de Ingres, a meio a fotografia de Man Ray e à direita um instrumento de cordas.
quinta-feira, março 01, 2007
Subscrever:
Mensagens (Atom)